Pastor Clodoaldo Malafaia.
Meu nome é Dauson, tenho 36 anos e sou natural de Valinhos/SP. Confesso para o senhor que nem sempre fui um homem decente, de boa moral, que trabalha em prol da causa de Deus, porque durante um período longo de minha existência terrena tive como meio de ganhar a vida o mercado negro das apostas.
Na época era "à-toa", como se diz, não acreditava em nada e levava a vida flautiando ou fazendo malefícios. Naquele ano, erguera-se na minha rua um novo templo evangélico, um prédio nababesco, de onde uma voz bradava grave e potente anunciando as belezas do Evangelho, para mim, incompreensíveis. Parecia que a Bíblia não surtia em mim, pastor, beleza alguma. Estava perdido.
Certas vezes passava na frente da igreja apontando o dedo do meio, ou gritando obscenidades. Ante meus olhos os irmãos só assentiam denunciando silenciosamente minha maldade, mas sem vingança.
O pastor certo dia foi visitar-me em minha banca de apostas. Chamava-se Anadias, um mulato alto e viçoso, com braços como troncos, assim como Golias, mas de uma sabedoria infinda das vocações de Deus. Eu fazia apostas esportivas envolvendo os resultados do Campeonato Brasileiro, num esquema muito simples: recolhia os valores e juntava todos em um bolão, e conforme os jogos iam passando, pagava comissões de volta para os jogadores, de acordo com seus acertos e erros. Antes disso, o dinheiro ficava investido em poupança e por isso rendia mais, de modo que eu podia minimizar minha comissão e agradar mais aos jogadores.
Pastor naquele dia colocou mais de dez mil reais no Corinthians, na reta final do Brasileirão, que já vinha de sucessivas derrotas e parecia não recuperar-se mais da lanterninha. Considerei o valor estranho, mas fazia os acordos que me propunham, então marquei seu nome, coletei o dinheiro e naquele mesma noite defini a aposta. Estranhei em ver um homem tão endireitado no Evangelho decidir fazer esse tipo de jogo vicioso esportivo, mas compreendi mais tarde que tratava-se de um teste à minha moral.
Naquele mesmo dia, saquei todo o dinheiro de minha conta, acumulado das apostas, por volta de quarenta e três mil reais, e depositei na conta da Igreja, seguindo suas orientações. Os apostadores ficaram irados com a minha fuga e atearam fogo na minha casa, sem saber que eu havia previamente vendido-a como também plano de Anadias, conseguindo ali mais oitenta mil reais, que doei posteriormente para um deputado amigo da igreja. O novo morador já estava em minha residência e teve queimaduras de terceiro grau, mas era um católico mesmo, pastor.
Como estava jurado de morte, mudei meu nome para Ezequiel da Pira Sagrada do Sétimo Dia e hoje sou obreiro da Igreja do Primeiro Impacto.
P.S.: Ainda faço apostas, porém é só no time do Primeiro Impacto Futebol Clube, o que é santo e muito apreciável.
Um comentário:
Aleluia!
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