sexta-feira, 4 de junho de 2010

[Testemunho de Misael] Comunistas e o Regime Militar

Testemunho recebido por carta do Pastor Misael Moreira.


"Trabalhei durante anos no serviço dos correios do estado do Estado de São Paulo como Operador de Triagem. O serviço postal da epoca era uma tremenda bagunça porque as cartas que chegavam eram todas abertas para a "verificação anti-comunista", diziam os superiores. Os funcionários eram vigiados por soldados fardados( do DOI-CODI) enquanto abriam as correspondências dos outros, na maior cara-dura e felicidade, como se fosse um bingo. A cada pacote ou correspondência , antes de abrir , rolavam apostas, em dinheiro, sobre o conteúdo ser comunista ou não. Dividíamos dinheiro e presentes achados nos pacores entre nós mesmos(antes da copa de 78, 'ganhei' um radio Philco Transglob 8 Faixas ) e nos divertíamos muito com o conteúdo hilário de algumas cartas. Uma eu não esqueço: era a de um cara que contava ao irmão que ele resolveu fazer uma orgia e contratou duas prostitutas mas descobriu, bem depois, que as 'moças' eram travestis e queriam coloca-lo no meio de um 'trenzinho da alegria'. Ainda por cima foi parar no hospoital depois de levar porrada dos travestis porque não quis pagar o programa!


Qualquer suspeita , a menor que fosse( como um genro dizendo que ama a sogra, um torcedor do São Paulo afirmando que Corinthianos são educados, uma criança pedindo o fim da ditadura para o papai-noel, cantor de MPB apoiando a repressão das drogas ou Brasileiros torcendo para a Seleção Argentina), geravam investigações("qual o nome e onde mora") e já rendia uma visita de fardados ,com cacetetes na mão, para "averiguação"(porrada). Eram todos católicos e algumas pessoas da agência costumavam escrever cartas falsas para incriminar vizinhos chatos, sogras e ex-mulheres mandonas, porque sabiam que os "milicos" dariam um 'jeitinho' no dito cujo( foi assim que meu vizinho maconheiro aprendeu a ser homem).

No dia 16 de abril de 1980, fui chamado por meu superior( seu Venâncio) a comparecer em sua sala, era fim de expedientes e a maioria já tinha ido embora. Ele disse confiar muito em mim e designou-me um pacote a ser enviado a casa no Morumbi. Recebi um embrulho pequeno , do tamanho da palma da minha mão e Seu Venâncio disse que eu receberia uma bela gorjeta assim que entregasse. Fui com a Berlineta Caloi Dobrável de 1972, na cor amarela, do serviço.


No endereço havia uma enorme mansão com quintal imenso, fachada em mármore branco e um Rolls-Royce Silver Cloud, ano 1959, na cor prata, estacionado na porta. Apertei a campainha e fui atentido por um mordomo, daqueles que se vestem como pinguim. Ele pediu para eu entrar e esperar que a madame já viria. Uma velha muito bem vestida veio até mim e recebeu o pacote, me dando alguns milhares de Cruzeiros(pouco para a época). Enquanto eu saia , descontente com a pão-duragem da madame , ouvi cirenes da polícia do exército. Agentes do DOI-CODI invadiram a mansão por tudo quanto foi lado e nos levaram na base da pancada em seus camburões. Tinha um soldado que ,segurando um terço Bizantino e uma imagem do papa João Paulo I nas mãos , dava um soco na cara a cada 'Ave-maria', um chute nas costelas a cada 'Pai-Nosso' e cotovelada no pau do nariz a cada 'Glória-ao-Pai'. Fui acusado de ser comunista e preso sobre a alegação de ser espião da KGB.


Ora essa, eu que era um grande defensor da ditadura militar , católico de berço , sendo condenado por comunismo?!


Que calúnia!


Eu tentava explicar a situação mas não acreditavam em mim. Sofri torturas por 5 dias seguidos e como não tinha nada incriminatório para admitir(EU NÃO SOU COMUNISTA!), fui jogado em outra cela com mais um outro tanto de presos da pior espécie( uma cambada de sindicalistas semi-analfabetos , cantores bahianos maconheiros ou leitores de Karl Marx). Lembro de um vagabundo nordestino que era líder sindical, tinha nove dedos na mão e de dicção estranha, era chamado de Fala-Fofa.


Fala-Fofa era o pior de nossa cela , se desse bandeira com ele , dormindo de bruços ou abaixando para pegar sabonete no banho , levava uma 'sarrada' por trás. Ele enchia a boca para falar de sua capacidade com a lingua ( e dizia ter a fala-fofa de tanto chupar 'buças') e se gabava de sua falta de critério quando o assunto era 'comer bundas'. Tinha um porém, ele encrencava com caras muito barbudos e esses ele , as vezes , não 'atacava' com seu vorax apetite pederasta. Logo que aprendi sobre isso , tratei de deixar a barba crescer antes que fosse tarde...

Contavamos histórias para passar o tempo na prisão e o Fala-Fofa sempre vinha com seus contos sobre pinga , mulher , veado e dinheiro, confidenciando a todos que só tinha entrado para esse esquema de sindicalismo para arrumar isso tudo de forma mais fácil. Um dos contos preferidos do Fala-Fofa era esse:

Segundo ele , estava em serviço de torneiro mecânico na metalúrgica até o horário do almoço. Como de costume , bateu um prato de feijão de corda com farinha, buchada de bode e rapudura de sobremesa, isso tudo arrematado com uma cachacinha 'Havana'. Logo depois do almoço , conta ele que bateu aquela lombeira e decidiu dar uma cochilada. Sonhou com a Betty Faria peladona , como na capa da 'Revista do Homem' de agosto de 78 , e acordou com o 'Tentáculo'(como ele chamava o próprio pênis) enrijecido. Suando muito e agitado , olhou ao redor e viu um cabritinho em um terreno baldio nas imediações da fábrica. "O cabritinho era jeitoso", dizia ele , que decidiu que o bicho pagaria o pato e seria 'enrabado'.


Foi até o animal e abaixou as surradas calças em Denim que usava. Lembrou de um conselho que recebeu na infância, quando teve muitas experiências com bodes e 'rodelas' : "tem que colocar o dedo antes , começando pelo mindinho, para alargar o buraquinho". Ele colocou o mindinho e o cabrito deu um salto na mesma hora , trancando o rabo com o dedo dentro. O bicho começou a se balançar e a dar coices para todos os lados , até que o Fala-Fofa conseguiu se soltar e caiu para trás, com o mindinho quebrado e fedendo a merda de cabrito.


Resolveu voltar a fábrica. No caminho, recordou de um companheiro sindicalista que havia se aposentado por invalidez depois de perder um dedo da mão em serviço e ,daí, foi só improvisar no teatro e no sangue-frio para decepar fora o dedo (quebrado) na maquina que torneia os parafusos. Se aposentou novinho , sobrando tempo pra ser um completo vagabundo , ou seja , lider sindical ou político.

Depois de algumas semanas , os sindicalistas foram soltos e eu continuei preso. No dia 28 de agosto de 1980 conheci o Pastor/advogado irmão Peter Minnesota. Ele era americano e conhecido de alguns integrantes do alto escalão do regime ( era um importante informante sobre os comunas infiltrados no país) e conseguiu junto a eles a minha liberação.Depois disto tudo , me tornei pastor e nós abrimos a nossa congregação( Igreja Intercontinental da Graça do Senhor). Nos fundimos a Igreja Internacional no início dos anos 2000 e atualmente fazemos parte dos registros da Liga dos Pastores.

A paz

Ass.: Pastor Misael Moreira Santos"

4 comentários:

Pastor Anacreonte Oliveira Jorge disse...

Glórias, Pastor Paulo.
Seu trabalho é reconhecido, és o predileto de Deus.
A Paz.

Fernando95.lopes disse...

A história do Fala-Fofa é a melhor!
Ri pra caralho! HUAHAUHAUHAUHAU

Anonymous disse...

Que porcaria

Anonymous disse...

Um pastor escrevendo dessa maneira? Contandos os podres dos outros? Imiscuindo-se nessa baderna que se tornou o discurso político brasileiro? Achei que pastores fossem homens sérios!? Mas o senhor deve ser apenas uma exceção né!? Que imagem horrível o senhor passou agora. eu não voto no Lula, não votarei em Dilma, e condeno esse governo canalha, entretanto o senhor foi mais canalha ainda usando esse discurso.

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