Super Olemário Brós

Olá, me chamo Olemário Santana, tenho 27 anos, sou fiel vizimista mas nem sempre foi assim. Essa é a minha história antes de aceitar a Deus.

Me tornei pai aos 14 anos. A mãe do meu filho me largou com ele aqui em Rio Bonito(RJ), onde ainda resido, com minha mãe,Neide, e meu filhote, Cleversom. Exerço a função de encanador, trabalho muito para dar uma boa vida a minha família. No Natal do ano passado, recebi uma alta quantia de bonificação e comprei para meu filho um aparato chamado videogayme. Para os irmãos que não sabem, o videogayme é uma maquina que se encaixa na televisão e faz aparecer uns quadradinhos que se movem e podem ser controlados. Comprei um tal 'Dynavision Extreme' (de ultima geração, disse-me o camelô), sem saber o mal que trazia para dentro da minha casa.

Meu filho passava horas a fio com o tal videoguayme, não parava nem para comer ou tomar banho. Com o tempo, todos os meninos da cidade se amontoaram na nossa casa, era pra mais de trinta crianças enfurnadas num quarto. Eu já tinha ouvido falar numa moda nova na capital, uma tal de 'parada gay', onde os homens se atracam com homens, a luz do dia, como se fossem homem e mulher. Temi que as crianças estivessem fazendo isso em baixo do meu teto e decidi confiscar o videogayme , para desagrado de Cleversom, que chorou muito.

Tocado pelos apelos do menino, que pedia o 'gayme' de volta, fui com ele a meu quarto e conectei a maquina na televisão para inspecionar o conteúdo. Acendeu na tela uma imagem de um baixinho barbudo e bigodudo(parecido ao baixinho da Kaiser). Cleversom contou-me que aquele personagem se chamava Mario e também era encanador. O tal vivia em um mundo cheio de lagartos do mal, comia cogumelos para ficar forte e devia salvar uma princesa. Não vi mal nenhum no jogo, até passei a joga-lo junto a meu filho.

Certa vez, retornava do armazém de compadre Quitério dirigindo meu Santana 1.2 com kit GNV. Estava ligeiramente sóbrio. No meio do caminho, parei para fumar um cigarro e encontrei um tronco onde cresciam bonitos cogumelos. Pensei comigo: "será que cogumelos são gostosos? Devem ser, o Mario come". Provei um. O gosto era horroroso. Sentei-me no tal tronco para relaxar um pouco. Então, vi sair de um arbusto uma tartaruga, devagarzinha que só ela. Ela parou e me olhou com olhar do demônio, tinha olhos vermelhos e um sorrizinho de canto de boca. Gelei da ponta do pé até a nuca. Fiquei eu olhando pra ela, e a danada me fitando ,como dois pistoleiros dos filmes de John Wayne. Fiz o primeiro lance, corri e chutei a maldita para longe.

Tomei meu rumo e mais a frente, já na rodovia, tive uma visão terrível: vi vários seres malígnos pilotando carros - tartarugas, lagartos gigantes,fantasmas e etc- todos prontos para me atirarem seus cascos. Acelerei a toda mas eles ainda me perseguiam. Então, dos céus desceu uma estrela cadente que acertou meu carro e o fez brilhar em muitas cores. Sentindo o poder da estrela, sai a toda, passando por cima das tartarugas que apareciam no meu caminho( as motorizadas e as a pé). Por fim , depois de atravessar uma procissão de fantasminhas que adoravam São Judas Tadeu, o efeito passou: perdi o controle e bati com o veículo em um barranco.

Desci do carro e vi muitos seres baixinhos parecidos com cães da raça pequines me perseguindo. Fugi para a mata. Achei outro tronco com cogumelos e comi mais um monte. Olhei para minhas mãos e braços e vi meu corpo inchar, eu estava gigante! Decidi despir-me antes de crescer para não rasgar as roupas novas que minha mãezinha havia comprado na C&A (uma loja chique da capital). Agora gigante, eu não tinha mais medo daqueles animais do demônio, virei-me e fui a caça dos malditos. Exterminei um por um: saltava em suas cabeças e eles ficavam achatados como panquecas.

Correndo pelas ruas, deparei-me com um belo casarão. O chefão devia estar ali com a princesa. Entrei. Não havia ninguém no local, só bancos vazios feitos em Mogno e decorados com mármore Carrara. Nos fundos do lugar, achei um homem e uma mulher próximos a uma piscina gigantesca. O homem parecia-se com um enorme gorila de terno branco e a mulher uma princesa medieval. Era ele! O gorila que raptou a princesa! Tentei pular em cima dele mas ele foi mais rápido e sacou um revolver calibre 38(que mais parecia um canhão), atirando-me um projetil enorme. Abaixei-me, espremido no chão, para desviar da bala gigante. Nisso, dei a chance do monstro me passar uma banda e me atirar na piscina. Apaguei.

Acordei só no dia seguinte. Estava na congregação da Igreja do Primeiro Impacto do Pastor Valcir Almeida. Ele falou-me que fui possuído pelo Inimigo e que o Tinhoso me jogou em uma alucinação infernal. Aprendi que o jogo do Mario afetou a minha mente de uma forma subeliminar, por isso queimei o gayme e apliquei um corretivo em Cleversom, para ele nunca mais se atrever a me fazer trazer o mal para dentro de nossa casa. Doeei meu carro a congregação pois pastor Valcir, que é dono de um ferro-velho, falou-me que a carcaça do veículo seria suficiente para pagar os custos do batismo. Hoje, sou um homem renovado pela fé no Senhor. Aleluia! Agora cristão, fico abismado com esses loucos que saem chapados a rua fazendo pega, atropelando as pessoas, e que ainda por cima assassinam pobres cachorros de rua .