Fala grande Clodoaldo. Meu nome é Alexandre, tenho 20 anos e faço facu de administração. Aqui na facu eu fui e sou um sujeito de muito respeito e todos me admiram; sempre fui conhecido por ser muito boa-gente, pregando sempre a paz de Cristo. Na verdade nunca tive amigos, mas é porque me dedico muito aos estudos, pra tirar muito dez. Isso não quer dizer que seja um nerd não! Sou boa pinta! Ando sempre com o meu pedaço da cruz de Jesus e com as vestimentas da igreja, camisetas, moletons, calça bem vincada (como manda a Bíblia), pingentes, etc. Enfim, sou crente, mas ando na moda. E como rapagote atraente, não podia escapar do olhar das gatas, o vulgo radar xaveco, hehe.
Curtia pacas uma menina da minha sala, a Cátia (foto acima é do seu orcute). Morena de olhos claros, corpo curvilíneo, narizinho empinado, jeito de riquinha. Ela fazia algumas matérias comigo, geralmente sentava pertinho, às vezes até do meu lado. Tava na cara que ela estava se atirando pra mim. Vinha puxando conversa, perguntando que horas são, derrubando lápis, etc, eu como "gentleman" fazia tudo que ela queria, só ganhando o carinho da gata.
Teve um dia que não resisti, tive de me declarar. Puxei uma folha de caderno e fiz logo um bilhetinho bem atrevido. Pus meus dons de poesia à prova e mandei uns versinhos: "Teu olhar é mimoso! Teu olhar é instigante! Amou-te esse cara garboso, desde o primeiro instante!" E em nota pequena acrescentei: "Me procura no recreio". Já estava ganha. Aguardei ansiosamente o sinal e então saí para a hora do lanche.
No pátio, fui surpreendido por uma cena terrível. Ela estava em pé na frente de algumas amigas declamando minha cartinha, e todas rindo ao seu redor. Quando me viram, apontaram e zombaram. Corei muito fortemente e corri para o banheiro. Tamanha a vergonha tive até pensamentos suicidas. Graças a Deus o zelador Diefersom estava limpando os mictórios e me impediu de cometer alguma loucura.
Porra, pastor, dar em cima de mim e depois fazer essa sacanagem? Isso não se faz, meu.
Nada que eu fizesse minimizava o inferno que vivi na facu naquele dia. Me tratavam como lixo. Naquela noite, desesperado, procurei o pastor Montanha. Disse a ele que desistiria do curso, pois agora era perseguido pelos meus colegas e havia perdido tudo que conquistara ao longo de dois anos. Com muita calma e tranquilidade, ele me contou que agi errado ao cortejar a moça sem conhecer sua família ou saber sua religião, mas a atitude dela era imperdoável. Jamais deve uma moça difamar de um homem, sobretudo gente decente (evangélicos). Aconselhou-me a conversar diretamente com os pais de Cátia.
Foi o que fiz. No dia seguinte, na saída da facu, com muito jeito de malaco, entrei no mesmo ônibus que ela (só no stealth) e desci um ponto depois. Por sorte ela não me identificou e assim descobri onde ela morava sem despertar suspeitas. Ao me aproximar da casa, notei que o vidro traseiro do Renault Clio trazia um adesivo conhecido. Era o próprio emblema da Igreja do Primeiro Impacto. Sim, pastor, aquela garota que trajava-se como uma mulher da vida, que zombava de um protestante, era crente!
Não tive dúvidas. No outro dia nem fui a facu, visitei sua mãe e contei-lhe a história toda. O pai de Cátia deu um belo de um esporro e ameaçou tirá-la da faculdade. Ela disse que "faria qualquer coisa" para não deixar de estudar, e foi o que aconteceu. Agora nossos cortejos estão encaminhados e ela vai me namorar. O pai já arranjou nosso casamento para o fim desse ano e estou muito feliz. Sei que Cátia não está muito agradada com a idéia, mas o que é que as mulheres sabem, hehe.
Alexandre
