Kadabra, o travesti pokemaníaco

Meus problemas começaram quando conheci o jogo Pokemon nas aulas de informática da oitava série; a maioria dos computadores( Pentium 233) tinha emulador de GB e Rom de Pokemom Red ou Blue.

Em casa, a gente não tinha computador nem video game. "Não eram de Deus"- minha mãe repetia o sermão do Pastor Jefté Soares. O máximo de tecnologia que tinha era um antigo jogo Genius da Estrela.

Certa feita , no horário do recreio, o Zé Eduardo da minha sala - um espírita kardecista e roustanguista que só andava com os olhos vermelhos e usava um daqueles cordões de macumbeiro bahiano - me chamou num canto:

-Ai , Jacó! Tá afim de comprar uma parada?

-O que?

Ele tirou um gameboy do bolso de seu casaco de moletom. Daquele mesmo bolso ele deixou cair um cachimbo de preto-velho.

- Novinho em folha. 50 conto?

Eu avaliei, o gameboy estava novinho e vinha com Pokemon Red.

- Tô sem dinheiro nenhum, Zé.

-Poh, faz o seguinte: fica com isso e depois você me paga. Valeu?!

Cheguei em casa e fui para meu quarto. Escondi o video game dos meus pais e dei uma desculpa de que tinha que estudar. Joguei o dia inteiro, só parando para comer.

No primeiro dia, eu evolui o charmander a Charizard(pokemom em forma de Dragão do Apocalipse) e já tinha conseguido umas 3 insígnias. No segundo, já tinha a bicicleta mais cara, 2 Kadabras(pokemom Kardecista, meu preferido), 1 Hunter( outro pokemom espírita) e 6 Rare Candy.No terceiro, já tinha 7 insígnias, evolui um Magikarp a Gyarados( pokemom do horóscopo chinês) e troquei um Poliwhirl por uma Jyxn (feiticeira nórdica).

Em uma semana eu já tinha completado o jogo e capturei 72 pokemons. Ganhei 10 quilos de tanto comer salgadinhos(sentia uma larica absurda depois de jogar).

Inevitavelmente , um dia o Zé veio me cobrar; era o dinheiro ou o game de volta. Pedi mais um dia para arrumar a verba.

Eu tinha que evoluir meu Kadabra a Alakazam! Eu tinha que ter todos os 150 pokemons e o Mew! Decidi me prostituir.

Desesperado , comecei a me oferecer sexualmente em troca de dinheiro. Me vestia com as roupas da minha prima Cecília (umbandista dançarina de axé) e batia ponto na Augusta de noite. Recebia 5 reais por meia-hora de programa.

Menti para meus pais dizendo que tinha conseguido um emprego noturno. Eles ficaram felizes mas mal sabiam que meu serviço era satisfazer caminhoneiros suados sedentos por sexo selvagem. Enquanto meu ânus era violado com força por corpulentos falos eu disfarçava um pouco e aproveitava para jogar Pokemon , evoluindo meus monstrinhos.

Juntei os 50 reais em 2 dias de prostituição e paguei o Zé Eduardo. Eu podia ter parado por ai mas estava fissurado naquilo e decidi continuar a fazer programas e juntar dinheiro para comprar o novíssimo Pokemon Yellow.

Numa terça a noite, chovia muito e um taxi parou do meu lado. O taxista abriu a janela e me ofereceu 100 reais para eu participar de uma suruba. Era o dinheiro que faltava para comprar o jogo que queria. Topei.

Eu faria tudo por Pokemon!

Cheguei em um sítio isolado da cidade e fui apresentado a 10 negros jogadores de futebol que fariam jus a alcunha de 'Kid Bengala'. Depois de 10 horas de suruba ininterrupta, tive uma taquicardia depois de me engasgar com esperma e passei muito mal. Quase morri na ambulância do SAMU.

Meus pais, quando descobriram, tentaram de tudo para me tirar dessa vida de sodomia e jogos eletrônicos. Fugi de casa e continuei com meus pecados.

É mais forte que eu...

Hoje sou conhecido como Kadabra, porque faço os pênis de meus clientes 'sumirem' e é uma homenagem a meu Pokemon preferido. Com o dinheiro da prostituição, comprei um Nintendo dsi com todos os jogos de pokemons já lançados e também comprei um Wii, onde usualmente me masturbo com o Wiimote enquanto eu vejo as fofas criaturinhas batalhando no jogo Pokemon Battle Revolution.

Me arrependo de tudo o que fiz e mando esse testemunho para que não repitam o caminho que ainda trilho.

Assinado.: Jacó Evertom de Souza Martins