Minha vida começou a mudar logo depois da morte de papai. Cachaceiro inveterado, meu pai era famoso pelas suas charadas e por gostar dessas idéias de espiritismos: freqüentava budismo, catinguelê, Santo-expedito, Rosa-Cruz, Xangô, mesa-branca, amarela, vermelha, preta...chegando até a alta bruxaria.Teve uma morte trágica: foi mordido nas nádegas, próximo ao ânus, por uma cobra Coral em um ritual masson no meio de um bambuzal: era uma orgia homossexual onde um grupo de homens formavam um círculo e penetravam analmente o da frente, formando um 'trenzinho guay'.
Foi uma vergonha para nossa família e uma péssima repercussão na cidade já que ficou provado que até o padre e o benzedeiro local participavam do tal ritual massônico. Mamãe decidiu mudar para casa do vovô Januário, em Córrego do Bom Jesus, MG.
Lembro, como se fosse hoje, das ultimas palavras de seu Osnir, meu pai:
-Meu filho , estou morrendo...(Cof, cof) ...me responda: o que acontece com a cobra que anda muito?
Falou isso e estrebuchou, não dando tempo para minha resposta. Nem na hora da morte meu pai deixava de fazer aquelas charadas bobas.
Tudo correu bem para minha família por um ano inteiro; conheci a Valquíria, me casei com ela, arrumei um emprego na prefeitura e já constituia um lar só nosso. Nesses tempos, comecei a ter um sonho estranho: via seu Osnir no leito de morte, em meio a um ritual no inferno e repetindo a charada derradeira que tinha feito; pedia que eu a respondesse.
O sonho se repetiu por mais de uma semana e eu comentei isso com minha mulher. Ela me disse que era cobrança do morto , que ele só ia sossegar se eu respondesse o que ele queria. Como eu não sabia com certeza o que papai estava pedindo(não devia ser só a resposta para a charada), decidi ir em um espírita pai-de-santo(Córrego de Bom Jesus era cheia de católicos e não foi dificil de encontrar).
No meio de uns 30 macumbeiros, reparei que um magrelo não tirava os olhos de cima dos peitos da minha mulher. Eu já estava fulo da vida e avisei a ela, que disse que era coisa da minha cabeça. Então, o pai de Santo pegou um daqueles sinetes de Igreja Católica , balançou e falou:
-Vamu começá os trabaio , misinfio.
De repente, o magrelo pulou no terreiro e começou a se tremer todo e a rodar.
- Quem chegô ai, misinfio? - perguntou o pai de santo
- Sou eu, o Caboclo Menino-Cobra-Coral. Humpf!
- Ê, Ê! Caboclo Minino-Cobra-Coral , esses dois vieram aqui para pedir ajuda. Vassuncê vai ajudá?
- Ajudo! Mas quero algo em troca...
- E o que vassunsê qué?
- Eu quero mamá.
- Mamá onde , caboclo?
- Os peito da irmã ali- e apontou para minha mulher
- O que? Que putaria é essa desse macumbeiro? - perguntei
- Cala esse boca , homem. Não é ele que vai mamá não... é o espirito que baixou. Além do mais , você não quer ajuda pra resolver o pobrema(sic) com seu pai? - respondeu ela
Consenti , resignado.
Valquíria colocou o peito pra fora e o caboclo veio sedento. Antes que ele completasse a minha cornitude, senti meu corpo estranho, comecei a tremer todo e me vi pulando, num pé só e contra minha vontade, no meio do terreiro. Bradei um "Háaa" bem alto.
- Quem é vassuncê ,missinfio?- perguntou o pai-de-santo
- Ié , ié ! Eu sou o Caboclo Malandro
- E o que vassuncê qué?
- Eu quero que o caboclo menino responda pra mim : o que acontece com a cobra que anda muito?
- Num sei, caboco...
Me vi acertando a cara do caboclo magricela e arrancando dois dentes dele. Foi o maior fuzuê no terreiro, voou galinha de angola, farofa de despacho e caruru para todo lado! Levei uma garrafada de Pirassununga na cabeça e várias chicotadas de laço de boiadeiro.
Graças a Deus, consegui fugir e levei a Valquíria comigo. Só voltei a mim quando passamos em frente a uma pequena Igreja no caminho de volta. Era uma Igreja Nazarena da Graça Universal do Altíssimo Senhor(I.N.G.U.A.S) e eu senti uma voz poderosa vinda de lá de dentro. Decidi entrar e tive a graça de ser convertido naquele mesmo dia pelo pastor Judá.
Me mudei daquela cidade, hoje moro em Belo horizonte e sou um pregador da Palavra. Nunca mais tive o sonho e acredito que o tal 'Caboclo Malandro' era meu pai, que depois de ser atirado ao inferno pelos pecados de se misturar com as coisas condenadas por Deus , como o espiritismo( veja Dt 18, 9-14), acabou se tornando um desses encostos do umbanda. Mesmo no caminho errado ele tentou me ajudar!
Aleluias!