Meu nome é Washington Wanderley, tenho 16 anos. Minha mãe me deu esse nome em homenagem ao Jorge Washington que foi um grande presidente dos Estados Unidos. Não estranhem meu sobrenome, minha família é bastante tradicional aqui de Recife, um motivo de orgulho: somos os Wanderley, descendentes do Soldado holandês Gaspar Van der Ley, que deixou por aqui suas raizes desde a época de Maurício de Nassau.Sou um menino bem tímido, não tenho muitos amigos. Na escola ficava sozinho na hora do recreio. Mas de uma hora para outra isso mudou. Há um tempo atrás, uma família se mudou para o apartamento ao lado do nosso. Minha mãe não gostou muito não porque eles ouviam um som estranho que mamãe falava ser 'som do demônio'. Evangélica fervorosa, mamãe chegou até a preparar cultos em casa para afastar aquele mau agouro.
Desde que se mudaram eu não vi a cara de nenhum dos nossos vizinhos. Eles se recusavam a atender a porta para minha mãe, que ia a cada hora lá para reclamar da altura do som com os reponsáveis. Certa feita, dei o azar de ficar no mesmo elevador com meu vizinho, era a primeira vez que eu o via. Ele era um cara estranho, se vestia com roupa de manicômio, tinha os cabelos alisados(igual mulher) e usava uma máscara terrível que escondia quase todo o seu rosto. Aquela máscara me deu caláfrios, parecia a do Geisom dos filmes Sexta-Feira 13. Rezei muito para o elevador parar logo. Eu acho que ele sentiu o cheiro do meu medo ( que já escorria pela perna) e tirou a máscara. Então ele puxou assunto e eu pude conhece-lo. Era um cara bem legal, se chamava Bruno, tinha 25 anos e se mudou do Rio de Janeiro para cá junto com a mãe.
Passou-se o tempo e cada vez mais fui me aproximando de Bruno. Ele se tornou meu melhor ( e único) amigo. Com ele comecei a me interessar pelo rock, não o rock comum (modinha) mas o heavy metal. A gente saia para os shows e pela primeira vez na vida conheci muitas pessoas novas e legais. Aprendi que para ser Metaleiro a gente tem que deixar o cabelo crescer, vestir-se de preto, usar acessórios, as vezes até maquiagem e máscaras. Infelizmente, para ser metaleiro a gente também precisa meio que se revoltar com a sociedade, com os adultos, dizer que eles não nos entendem , que falam mal do nosso gosto sem saber. Vira e mexe a gente arrumava confusão na internet, ou se trancava no quarto em casa, sem comer, só no videogame, para protestar contra nossos pais 'nazistas' (sic). A gente também tinha que odiar forró, funk, sertanejo, axé, hip hop, brega , mpb, gospel, pagode, samba, reagge e um tanto de outros ritmos.
Nossa banda favorita era o Slipknot e as músicas favoritas eram
Before I Forget ( 'antes que eu me esqueça'
), Psychosocial ( 'psicopata') e
Wait and Bleed ( 'espere e sangre'). Quando descobriu que o Slipknot ia vir no Rock in Rio, o Bruno comprou logo o ingresso dele, nem me esperou. Eu tava duro e minha mãe não desenrolou o dinheiro. Fiquei bastante inquieto, tive até pesadelo, sonhei com Corey Taylor e ele me falava assim "Maggot, não perca A chance da merda dessa sua vida!" . Segui seu conselho e não perdi a chance. Naquele impulso, peguei os 600 reais que minha mãe tinha separado pro vízimo e comprei, com um cara que descobri na internet, um ingresso para o dia 25/09 do Rock in Rio ( paguei R$ 240,00, uma pechincha). Comprei também passagem de ônibus ida e volta para o Rio de Janeiro e preparei minha mala , com minha melhores roupas e minha máscara ( que eu mesmo fiz usando couro de boi).
Cheguei no Rio bem no dia, ás 8 horas da manhã. Comi uma coxinha com refresco de maracujá na Central e peguei ônibus para a cidade do Rock. Encontrei meus amigos por lá. Lembro que o Bruno estava muito agitado achando que o segurança ia mandar a gente tirar as máscaras ( o nosso plano era não tirar a máscara momento nenhum naquele dia, em homenagem a nossa banda favorita, claro!). Ele chegou a dizer que se não deixassem ele entrar com máscara, que ele ia colar na cara. Eu também fiquei meio aperreado com isso , não queria perder a máscara que fiz com tanto carinho. Andei quase 5 kilometros até achar um lugar que vendia cola Super-Bonder. Passei cola na máscara e encaixei na cara. Queria ver algum segurança tirar ela de mim!
Voltei bem na hora que os portões estavam abrindo. Me perdi do resto do pessoal. Quando tentei passar na catraca, não consegui. Disseram que meu ingresso era falso, que eu não ia poder entrar. Tentei ajeitar na conversa mas com a máscara colada na cara, ficou quase impossível falar direito. Naquela confusão toda ainda roubaram a minha carteira. Tive de me resignar e voltar. Na estação da cidade do Rock, também não conseguiram me entender por causa da máscara. Fiquei por ali, parando o pessoal , pedindo ajuda, na esperança de alguém me entender. Fui confundido com um mendigo deficiente mental e logo recolhido ao Instituto Philippe Pinel ( um manicômio), onde fiquei um dia inteiro. Lá no Pinel, fui abusado várias vezes mas nada pude fazer. Só consegui sair quando a cola soltou da cara e liguei para minha mãe vir me ajudar. Ela pegou o primeiro voô para o Rio.
Jurei para minha mãe nunca mais me meter com essas coisas do diabo. Voltamos para nossa terra ( de avião. Passagens parceladas em várias vezes no cartão). Lá o Pastor me purificou dos pecados e me ajudou a me reeguer. Hoje sou da Igreja do Primeiro Impacto ( a única que salva em suaves prestações). Até agora ( 19:30 do dia 26/09) não vi o Bruno. Fiquei sabendo por fontes confiáveis que quando ele tava no show do Slipknot, que o Corey Taylor( vocalista da banda), incorporado pelo demônio, apontou o dedo para ele e para mais um monte de pessoas. As pessoas que o Corey apontou o dedo, ou já morreram ou vão morrer em terríveis acidentes. Sinistro.
Bem que o pastor diz que é de se estranhar gente de 25 anos ainda vivendo com a mãe. De Deus que não é.
Aviso aos irmãos que esse tal
Nu Metal ( estilo musical que o Slipknot faz parte) é totalmente satânico, faz mal ao célebro e desvia as pessoas do caminho do bem. Slipknote nunca mais! Louvado seja nosso SENHOR!