Pastor Diógenes, o condutor de ovelhas

Meu nome é Diógenes Seixas, tenho 47 anos e passei 3 deles na prisão. Vou contar um pouco de minha história. Não chorem, a não ser de alegria.

Tive uma vida pacata até meus 43 anos. Sempre fui agricultor, a terra lá em São Borja era boa. Herdei 10 hectares, onde plantava soja. Da soja, minha mulher e as crianças faziam leite, carne etc.. Assim nós nos mantínhamos. Porém, veio a seca de 2006-2008, que estragou várias safras. O banco não quis me conceder empréstimo. Que tristeza. Chorei muito.

Aquele ano foi difícil, não tínhamos o que comer. Acordei certo dia, preparei um mate bem amargo e fiquei olhando o horizonte esperando o amanhecer na coxilha. O sol lançou os primeiros raios já clareando as folhas altas do eucalipto. Do lado da cerca de meu vizinho, o Antonio Neves, várias ovelhas gordas pastavam tranquilamente. Não tive dúvidas. Durante a noite, pulei a cerca, chamei as ovelhas estalando os dedos, que vieram para perto. Então golpeei a nuca de uma, que desmaiou. Coloquei-a debaixo do braço e pulei a cerca correndo. Cheguei em casa com a ovelha, e as crianças pulavam em volta de mim, eu me senti um campeão erguendo um troféu.

Pela manhã o Antonio Neves veio me perguntar o que acontecera com uma das ovelhas, eu disse que deve ter sido o pessoal do frigorífico do gordo Juca, famoso por roubar gado na região.

Eu tinha um problema, no entanto: não podia fazer um churrasco fora de casa, senão seria visto, e dentro de casa não tinha gás. Carneei o bicho e guardei a carne enquanto pensava. Pensando no gordo Juca, em como ele era redondo, resolvi roubar um butijão de gás para assar a carne. Mesmo esquema de antes, esperei a noite cair, cheguei na espreita, botei o butijão debaixo do braço e pulei a cerca.  

Roubei várias outras ovelhas. O povo assustado começou a falar em lobisomem e em chupa cabra.

Fui até o gordo Juca para vender uma ovelha, mas ele me recebeu mal. Disse que eu era amador e que por minha culpa o delegado Gusmão estava de olho nele. Falou para eu levar minha carroça até a fazenda dele. Lá chegando, me deparei com a polícia e fui autuado em flagrante com a carga. O safado armou pra mim. Assim fui preso.

Na cadeia, resolvi tirar minha vida miserável. Estava humilhado, sem perspectiva alguma, o Grêmio havia sido rebaixado, me violentaram sexualmente e meu filho mais novo era homossexual. Que vida ordinária. Coloquei o lençol no pescoço e estava prestes a me enforcar. Quando ia saltar, o tempo parou, e o teto da prisão se abriu, revelando nuvens brancas, entrecortadas por raios solares, e a presença divina de Deus Pai.

-Diógenes, levanta-te e cria um ministério da Igreja do Primeiro Impacto.

Desde então sou pastor evangélico. Não meto mais a faca na jugular de minhas ovelhas, mas as conduzo ao paraíso.

Aleluia!

Pastor Diógenes