Muita gente diz que essa estória
é mentira. Não ligo. Pastor Ari diz pra eu não ligar. Diz que os irmãos vão
acreditar, então eu conto. Isso foi antes, quando eu ainda não era cristão
ungido pelos sete azeites de Israel da nossa glorificada Igreja do Primeiro
Impacto.
Se me perguntasse, eu dizia que
não tinha religião. Dizia: oxe, diabo de religião, eu gosto é do rala-coxa, do
fumadório e da cachaçagem, da putaria, tá mim entendendo? Naquela época eu não
sabia, era inguinorante, mas o que eu era era ateu, num sabe? A palavra é essa:
ateu. Caba safado, que não acredita em Jeová. Ateu; chega vem um gosto amargo
na língua.
Pois bem, dizia que eu era ateu e
gostava mesmo era de gastar minha vida nos cabaré, dando dinheiro pras puta e
tomando cana com os amigos. Foi numa dessas casas de aceitação que eu conheci o
sujeito. Chegou já dando um chute na porta, com o charuto na boca, um copo de
uísque na mão e dizendo: Putaria aqui é pouco, que hoje eu tô muy loco! Vendo
aquele sujeitinho mirrado, com um bigodinho ralo, todo no branco feito
catimbozeiro e falando francês, escapei uma gargalhada. O caboco olhou pra mim,
riu também; disse: eu gosto de bom humor! Traz uma garrafa de cana pra mim e pro
cumpade aqui que hoje nóis se acaba!
Pois bem: até que o sujeito era
gente boa. Pagou muita cerveja, cachaça, uísque e tripa de porco, sarapatel,
macaxeira frita, queijo de coalho assado com cebola e tomate, camarão alho e
óleo, batatinhas elmachipes, dentre vários tira-gostos que vendia no bordel de
Joana Cabeluda. A semvergonhice, aliás, era o assunto favorito fulano: sabia de
tudo, falava de tudo, gostava de tudo. Disse que frequentava todos os cabarés
da região, todos os dias da semana. Mas tinha problema: apesar de gostar da
camaradagem, já não tinha amigos com quem compartilhar os momentos da
raparigagem. Falou que o último amigo – um tal Riobaldo – tinha deixado a vida
pra casar. Falei: eu nunca faria uma coisa dessas. Ao ouvir meu dito, retrucou
uma gargalhada e um convite: que fosse com ele todos os dias nas festas. Falei
que se ele pagasse a cana, tava ótimo. No final da noite, ele me revelou seu
nome:
- Comé? Lúcio?
- Não, rapais. Lúcifer. O Satanás
– só então notei a cara vermelha e os chifres.
A partir daí, minhas noites eram
só fuleirage. Cada dia era um cabaré diferente: Mil e Uma Noites, Zé da Peia,
Véia Selma, Hotel Califórnia, Lemon, Chanzelizê, Cangote Cheiroso, Furo Solto,
Bar Garotas, Réguei Naits, Malagueta, e vários outros que nem mesmo sabia da
existência. Não me preocupava que estivesse andando com o cão. Na sinceridade,
preconceito em mim não havia: tinha até amigo maçon e comunista. Só não tinha
amigo crente: crente não bebe cana.
Dizia que dedicava a vida a
safadeza, junto com o amigo Lúsfre. E quando a amizade ficou mais forte, o
camarada começou a me levar pras festas boas: lá no inferno. Juro. Fui no
inferno várias vezes, acompanhado do próprio sete-peles. Como é o inferno?
Rapai. Tu já fosse em Paulo Afonso? Parece.
Pois lá a coisa era boa mermo.
Mulé adoidado. Muita comida. E todo o tipo de goró, só do bom: uísque
abessolute, caninha 51, cerveja antártica bem geladinha, até gim, vodeca e
vinho chateau le blanc 1969, ispia só. Conheci muita gente lá: Chico Xavier,
Máicou Jecson, Bin Laden, Jorge Amado, Tim Maia, General Pinoxê, vários papas
(inclusive o atual), Hitler, Padre Antônio Vieira, Judas Iscariotes, bandido da
luz vermelha, Elvis Presley, Roberto Carlos, Garrincha, Antonio Conselheiro,
Lorde Bairon, Gandhi, uns quatro ou cinco budas, dois dalai lamas, Francisco
Pizarro, George Bush e Obama, João Lenon, Inri Cristo, Mebude, Xerloc Holmes,
Rainha Vitória, Santo Agostinho, Karl Marx, Machado de Assis, Marques de Sade,
Mussolini, Didi Mocó (dele eu peguei um autógrafo), uma porrada de japonês, Chica
da Silva, presidente Lula, Jorge Washinton, Renê Decarte, Wando, Mao Tsé, Alan
Kardec, Madona, vários judeus, Wladimir de Oyá, Leonardo Davinsi, Jeca
Pagodinho e vários outros que não recordo. Muitos iam de visitante como eu. Mas
todo mundo gostava de ficar ali.
Passei muito tempo nessa vida;
até que um dia o Lusife, que eu achava ser meu amigo, se engraçou pra cima de
mim. Digo: quis achar que eu era a mulé dele. Aquilo me deu raiva.
- Tá achando que sou o que,
rapais? Sô macho, porra – falei.
- Que é isso, Juvêncio (é meu
nome)? Aqui nada é proibido – falou o cramunhão.
- Apoi passar a mão na minha
bunda é!
No qual falei isso, a cara do
diabo ficou preta de raiva. Com os olhos em braza e saindo fogo das venta, o
maldito disse pra mim:
- Pois eu vou comer seu rabo é a
força!
Saí correndo dali com o Satã
atrás de mim com uma pemba de 1 metro pegando fogo. Corri feito um
destrambelhado e não sei como, consegui escapar do inferno. Olhei pras costa: o
tranca-rua continuava atrás. Na cegueira, entrei no primeiro estabelecimento
que vi aberto; lá dentro, um senhor muito arrumado contava dinheiro. Corri pra
perto, ajoelhando: mim ajuda, pelamor de Deus, implorei. O cão já tinha entrado,
chamando meu nome. Ao ver o senhor arrumado, sua jeba murchou e subiu um fedor
de enxofre.
- Você! – disse o satanás.
- Dessa vez eu lhe pego, cabra
safado – disse o senhor e pegou uma espingarda calibre 12 que estava encostada
na parede.
Só ouvi o pipoco; o satanão disse
ai! e sumiu num redemunho.
Aquele homem elegante era o
pastor Ari. Não preciso dizer muito mais: depois daquilo, me converti à Fé do
Senhor, na mesma Igreja do Primeiro Impacto na qual fui salvo de ser sodomizado
pelo Diabo. Hoje trabalho de vaqueiro em uma das fazendas do pastor Ari. Pra
completar minha felicidade, estou noivo de uma de suas filhas: minha queria
Arileide. Vida melhor não há.
6 comentários:
esse e um punhetero cada dia tava num putero nego disposicao
quando se for nessa zona se me chama para eu pedi um autografo pru Elvis Presley,
Caralho!!! Muito engraçado hahahahahahahahahahahah
Muita unção irmão, me pergunto se o senhor já falou com aquele seu amigo que poderia trabalha como peão de uma de minhas fazendas.
Pastor Edson.
Pemba de 1 metro pegando fogo????? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Sensacional! Parabéns ao redator desse testemunho tão ungido!
Muito divertido, parabéns
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