Coração Valente

Olá pastores,


Sou Apoliano Raimundo e moro na capital do bem estruturado estado do Piauí, Teresina. Em 28 de abril de 2003 eu trabalhava como caminhoneiro viajando Brasil à fora, quando repentinamente, enquanto eu curtia uma parada e ouvia Odair José, senti uma pressão extremamente desconfortável, uma sensação de aperto no peito e a dor foi se irradiando pelos os ombros, pescoço, braços e tomando minha cabeça violentamente, deixando-me com uma tonteira absurda, eu suava bicas, desmaiei a 160km por hora na Régis Bittencourt.


Acordei no Hospital das clínicas da UFPR, em Curitiba. O médico veio me avisar que eu havia fraturado as duas tíbias, a fíbula direita, o úmero esquerdo, quatro costelas, o osso esterno, e fragmentos de ossos perfuraram meu fígado, porém essa não era a pior notícia. No exame de sangue eles descobriram que eu era soro-positivo. Nunca tinha feito esse exame com medo do resultado, pois eu me relacionava com prostitutas e travestis, tomado pela pomba-gira (espírito da lascívia), devido ficar muito tempo na estrada longe da minha esposa.


Além disso, ele detectou uma angina severa em meu coração que não havia possibilidades de ser tratada com medicação ou cirurgias reparadoras. Voltei pra casa abalado, contei pra minha esposa que eu estava com um problema severo no coração e que precisaria de um transplante, contei também que ela estava com AIDS.


Semanas depois ela mostrou-me exames que apontavam sua soro-negatividade, fiquei perplexo, como podia aquilo acontecer? Foi então que ela me contou de sua igreja, e fui até lá, aceitei a Cristo e batizei-me, comprei uma tira das vestes fúnebres de Jesus, que o pastor Eliézer trouxe de Jerusalém, e fiz um chá. Fiz novamente os exames e não existia mais AIDS alguma em mim, porém ainda estava com o problema no coração.


Entrei na fila dos transplantes, esperei por mais de 7 anos, sempre jejuando forte, dizimando forte e pelando os joelhos em orações contritas pelo menos 5 horas diárias todos os dias. Até que mês passado recebi uma ligação de que havia um coração pra mim. Fui imediatamente ao hospital para realizar a cirurgia.


Eu estava devidamente paramentado com a bata cirúrgica, com aproximadamente trinta diferentes fios acoplados ao meu corpo, ouvia vozes ao longe, estava anestesiado quase apagando... Mas não apagava! Eu observava todos os detalhes, meu Deus do céu, via pelas lentes do óculos do cirurgião meu peito sendo aberto, eu estava desesperado, mas não conseguia mover um dedo sequer, por mais que eu tentasse... Quando estava pra pegar no sono, escuto a conversa do médico e suas auxiliares:

- Pois é, o Raimundão era macumbeirão fino, curava até viadagem, o cara... É uma pena ele ter falecido dessa forma tão grotesca – disse o médico.


- Pelo menos está salvando a vida desse pobre homem agora – disse a enfermeira.


Naquele momento inspirado em Sansão, quando ele derrubou o templo de Dagom, tirei forças de onde não tinha e apliquei um chute bem no centro da protuberância frontal do médico, levantei-me de súbito e arranquei todos aqueles fios, as auxiliares vieram pra me conter, e eu segurava minhas vísceras com uma mão e aplicava golpes nelas com a outra.

Com todos no chão, eu peguei o coração macumbado e exclamei a plenos pulmões:


- Posso até morrer agora, mas a morte dos justos! Esse coração ímpio nunca baterá dentro de mim! – e o esmaguei ferozmente.


Pulei pela janela, estávamos no sétimo andar, fui pulando de toldo em toldo, até chegar ao térreo. O prejuízo maior foi ter perdido um rim nisso tudo. Mas a justiça de Deus não tarda, seus planos o homem não pode entender, é muita unção pra uma mente terrena! O Pastor Matsumata Nakagano, apelidado de Samurai da salvação, morreu mês passado aqui em Teresina, e depois de uma vida de batalha contra os otakus e afins, doou seu coração compatível pra mim.


Hoje levo uma vida de fé e esperança, com a diferença de que faço hemodiálise e como peixe cru diariamente.


A paz.