Me chamo Henrique, sempre morei na fazenda, quando chegou a hora de prestar o vestibular para ir à faculdade, meus pais não podiam pagar, então eu teria que entrar em uma faculdade pública. O problema é que eu não era um aluno muito dedicado e certamente não conseguiria ser aprovado em um bom curso, para facilitar minha vida resolvi escolher um daqueles cursos que as pessoas fazem só pra entrar na faculdade mesmo e optei pelo curso de Ciências Sociais.
Fiz a prova do vestibular e como esperado fui aprovado, meus pais ficaram muito felizes, deram uma baita festa e espalharam para a vizinhança que eu era o mais novo aluno de uma universidade federal, o orgulho da família, pois até aquela data ninguém havia feito faculdade.
Passado um ano de curso, eu já era “o cara” da dialética (a arte do diálogo), criticava a mídia, os burgueses, o governo e acabara de me filiar ao PSTU. Era ano de escolha dos novos componentes do DCE e eu estava empenhado na campanha dos meus amigos, tanto que havia deixado de lado meus estudos, afinal eles não eram prioridade pra mim, estava lá apenas pelo reconhecimento que uma pessoa com nível superior tem nesse mundo capitalista.
Sob influência dos meus amigos, agora do DCE, comecei a fumar um beckzinho de leve, só para relaxar mesmo. Estava completamente envolvido com o movimento comunista e gostava muito dos ideais deles, até que conheci o Marquinhos, ele era um amigo do pessoal do DCE, que tinha acabado de voltar de um intercâmbio na Alemanha, tinha ficado lá por 18 meses mas aprendeu bastante coisa. Disse que nossas ideias eram boas, mas que se quiséssemos ser ouvidos e levados a sério teríamos que ser mais radicais, e disse que a moda entre os esquerdistas europeus era ser vegetariano, pois além de se preocupar com o bem-estar da humanidade, um visionário teria que se importar com o futuro do planeta e dos animais em geral, disse também que nós tínhamos que defender de qualquer modo a sustentabilidade, não por ser bom, mas porque isso nos tornaria famosos na mídia e nas redes sociais, assim seria mais fácil espalhar o comunismo por todo o país, então decidimos adotar as ideias dele.
Naquele mesmo dia voltei pra casa e disse aos meus pais que a partir daquele dia não comeria mais carne e que seria vegetariano, no início eles não aceitaram muito a ideia mas depois de dar uma breve explicação sobre o assunto, acabaram aceitando. Então contei a eles que gostaria de cultivar uma horta, fiz isso e ainda plantei em uma pequena área da fazenda alguns pés de milho, com os quais eu iria me alimentar. Entre o milharal plantei alguns pés de canabis, para consumo próprio e para dar aos meus amigos que não podiam plantar em casa.
A vida que eu levava estava muito divertida, sem ter que estudar, cuidando da horta e das demais plantações, postando fotos das minhas comidas vegetarianas no Instagram e curtindo o sunset embaixo de uma mangueira, fumando um baseado. Foi lá, no final de uma tarde de Novembro que minha vida tomou um rumo totalmente diferente.
Havia uma vaca, a mais rentável para a fazenda, era campeã em tudo que participava, além de ser a que mais produzia leite na fazenda (23 litros por dia). O nome dela era Mococa, mas poderia ser facilmente Megan Fox, pois era tão linda quando a atriz de Hollywood. Meu amor pelos animais era tão grande, que acabei me apaixonando pela Mococa naquela tarde, foi lá que aconteceu o primeiro beijo e como ela não dificultou, o primeiro sexo também. Pra Mococa pareceu normal, afinal ela não era mais virgem, mas pra mim foi a melhor coisa que poderia me acontecer, era a minha 1ª vez, aos 23 anos, mas não me arrependi em nada.
Nos encontrávamos todas as tardes, no pôr do sol e depois de uma conversa e alguns beijos tudo acabava em sexo. A Mococa era tudo que eu queria, pensei até em me casar com ela e quem sabe ter alguns filhos, pois eu sempre gostei de minotauro, quem sabe ele poderia até ser lutador de MMA. Isso para qualquer pessoa poderia parecer algo impossível, mas pra mim, que me considero filho de Zeus, é uma coisa absolutamente comum.
O grande problema é que devido ao fato de a Mococa ser fiel a mim, ela parou de produzir leite e meu pai, esperto que era, desconfiou de alguma coisa. Começou a observar ela mais de perto, até que um dia ele me flagrou com a trolha dentro da pepeca dela, espantado ele perguntou porque eu estava fazendo aquilo, já que era vegetariano, depois me mandou para casa, através de uns tapas bem dados.
Chegando lá, disse a ele que eu não iria me separar da Mococa e que para eu me afastar dela ele teria que me matar, meu pai disse que estava cansado e que no dia seguinte conversaríamos. Fui dormir, já que no dia seguinte tinha aula.
Quando cheguei em casa, já esperando levar um sermão por conta do ocorrido no dia anterior, vi que haviam mais pessoas do que o comum, eram alguns amigos do meu pai. Na verdade ele estava dando um churrasco, quando cheguei ele me chamou e disse para eu comer um pouco da carne, falei que não era assassino e segui para o meu quarto. No final da tarde quando me preparava para ir ao encontro da minha amada, ele veio até mim e disse que aquele churrasco tinha sido feito com a Mococa, já que ela não produzia mais leite não tinha serventia para a fazenda e que as minhas palavras da noite anterior o tinham feito tomar essa decisão.
Fiquei com um baita ódio, mas não fiz nada naquele momento, voltei para o meu quarto certo de que iria me vingar. Entrei na internet tentar comprar uma arma, encontrei um cara que fez um preço bom e que morava perto da minha cidade. Quando fui entrar no foursquare para procurar o endereço do cara, vi que no twitter estava acontecendo um culto via tweetcam, cliquei no link e o pastor pediu pra eu colocar a mão na tela do computador nesse dia fui salvo, hoje faço parte do ministério do azeite quente, saí da faculdade satanista que eu estava e nunca mais quis participar dessa bobagem de vegetarianismo.
A Paz.