A inveja me corroeu

Olá, pastor, meu nome é Juracindo, mas o pessoal daqui me chama de Junior, já que o nome do meu pai também é Juracindo, tenho 37 anos e sou fiel vinzimista, sou de Itapipoca, Ceará.



Quando eu tinha 28 anos, eu não era um homem santo, já que na época eu era católico. Era viciado em cola de sapateiro e orégano, vivia chapando, até que um dia, resolvi sozinho parar de usar essas drogas e sair da aba dos meus pais. Achei um emprego de ajudante de pedreiro não muito longe da casa de meus pais, aos 35 me mudei para minha casa, alugada bem próxima da pedreira onde trabalhava, eram necessários apenas 20 minutos de caminhada para chegar ao local.



O maior problema foi o meu vizinho, Gumercindo, ele era evangélico e tinha tudo. 2 carros belíssimos, que eram um Peugeot 307 personalizado com kit gás e luz de neon embaixo e um Ford Ka 2006 Flex-power vermelho com rodas de liga leve, um dele e um da esposa, tinha uma mulher linda, 2 crianças serelepes, porém bem-educadas, uma casa grande, TV de LCD da CCE, 42", uma mesa de sinuca muito bem montada de Pau-brasil e Cedro australiano, estava sempre usando ternos caríssimos e juro por deus, eles tinham um Zeebo, que na época estava em fase de testes.



Eu olhava para eles e tremia nas bases, eles tinham tudo, viviam como reis, eram felizes e o mais importante, tinham Cristo no coração. Eu olhava para aquela família e pensava, “Cristo, porque eles tem tudo? Porque eu não tenho nada?”, eu estava possesso, eu queria tudo dele, queria a esposa dele, queria a vida dele. Pensei até em me matar, escrevi uma carta onde dizia que eu queria me matar e que não acreditava mais em cristo tenho essa carta até hoje para comprovar a veracidade de meu testemunho.



Estava eu, indo até o prédio dos correios enviar a carta via Sedex 10, quando, eu vi o cartaz pendurado no poste "Abra seu coração para a vovó Maria Conga das almas, faço todos os tipos de trabalhos a preços acessíveis, venha me consultar". Não perdi tempo peguei meu aparelho de telefone Panasonic KXTS9LBG Grafite e liguei sem pensar duas vezes, mal sabia eu que estava me metendo em uma pilantragem do pior tipo.



Liguei, uma mulher me atendeu e me deu o endereço, disse que faziam qualquer tipo de serviço espiritual e até que traziam a pessoa amada em até 3 dias. Fui ao endereço, era um barraco bem velho no meio do nada, sem casas, sem lojas próximas, as casas que tinham estavam velhas e abandonadas, um frio me gelou a espinha, como se fosse Jesus Cristo me dizendo “Não faça isso, porra!”. Como era católico e acreditava nessas bobagens, continuei assim mesmo.



Entrei, era um lugar cheio de teias de aranha, sem tinta nas paredes feitas de cimento barato e tijolo velho, imagens de santos em estilo barroco para todos os lados, fotos de Chico Xavier e esculturas com a imagem do Tranca rua e Zé pelintra na porta da mulher que estava para terminar um trabalho de amarração com um cliente, que de todas as pessoas nesse mundo, não fazia a mínima idéia de que fosse ele.



Era Gumercindo! Vestido de Pomba-gira e fumando um charuto Don Porfírio e dançando ridiculamente como se seus pés estivessem em brasa, mas diferente da dança santa do reteté, aquela brasa era a brasa do inferno.



Virei as costas e saí correndo daquele lugar, nunca mais pus os pés lá, até que me dei conta de que tinha corrido tanto, que cheguei a um bairro desconhecido, olhei para frente e vi uma enorme estrutura, linda, parecia um edifício de escritórios, mas não, cheguei mais perto e li o letreiro luminoso de neon que dizia “Igreja Internacional – A salvação é apenas o começo”. No mesmo instante parei e pensei “Que belas e sublimes palavras!”, não pensei duas vezes e me converti.

Passei a pagar o vínzimo da igreja e a ir aos cultos 3 vezes por semana, orei muito. Hoje não vivo mais do lado de Gumercindo, me mudei para o bairro da Igreja Internacional, hoje em dia sou Mestre de obras e sou casado com a ex-mulher do Gumercindo, que se separou dele após descobrir que o mesmo era na verdade Espírita.



E o Gumercindo? Hoje em dia ele não é mais “Doutor Gumercindo”, como era conhecido. Agora é “Pai Gumercindo de Ogum”, agora vive uma vida miserável em minha antiga casa, viciado em drogas pesadas e samba de gafieira.





Glória