Pastor, não sei como dizer isso, mas parecia que naquela época eu estava me tornando um homem de pouca fé. Minha vida estava perfeita, eu sempre comparecendo aos cultos, arrumei uma linda namorada também da igreja, recebi aumento salarial, ganhei um carro em uma Raspadinha do Rio, mandei pintar minha casa toda de branca e azul, em homenagem à melhor e mais ungida Igreja de Todas.
Pois bem, um dia eu estava em casa vendo um jogaço pela série C do campeonato Brasileiro, era Madureira e Friburguense, o ataque do Madureira não dava trégua e a defesa do Friburgão falhava muito, estava ficando cada vez mais tomado pela Ira.
Ainda mais naquele dia. Mesmo com a minha vida estando 100%, eu estava ligando para um jogo de futebol e estava deixando uma brecha para Satanael adentrar em meu domicilio.
Um dia muito incomum. Eu tinha cortado meu dedo em um prego e tive que tomar vacina antitetânica, mesmo não acreditando nessas charlatanices de médico, minha namorada não apareceu para me ver e o Friburguense perdeu de 4x3, por muito pouco não viramos o jogo nos acréscimos, o juiz roubou muito, anulou um gol lindíssimo.
]Tomado pelo ódio, eu lancei a garrafa de cerveja Schincariol contra a tela da TV de 32’’ CCE. Voou vidro pra todo lado e teve um curto, a luz da minha casa apagou e voltou depois de uns estalos. Com muito ódio, fui para cama orar e pedir para que Jesus perdoasse meu pecado.
Enquanto eu estava orando muito, pedindo perdão a Jesus e pedindo também para que minha namorada finalmente aparecesse em minha casa como tínhamos marcado, ouvi a campainha ser tocada, que emitia sons de pássaros silvestres do coração da selva africana.
Fui até a porta e eram meus dois camaradas, Luciano e Toninho, dois amigos que não via uns dias antes de conhecer minha amada Olga. Eles estavam muito animados com uns 4 engradados de Skol e 5 kg de alcatra e contrafilé.
Toninho, logo tomou a frente e disse:
- Aê, simbora pra despedida do Ecrésio?
Eu fui tomado por uma euforia repentina que logo foi abatida pela lembrança de que eu estava namorando. O grande e largo sorriso em minha face foi tomado por uma cara de tédio e um quase-choro seguido de olhos lacrimejantes e um resmungo de:
- Não posso to namorando.
Luciano, com uma cara de espanto disse:
- Mesmo não acreditando muito nisso, eu insisto que você vá à festa do Ecrésio. Quem disse que você precisa trair ela se for? E quem disse que ela precisa saber se acontecer?
Luciano deu uma “piscadela malandra” e foi me puxando pro carro, sem resistir muito, eu fui tomado pela tentação e acabei indo à despedida de solteiro.
Trajando uma calça social manchada de molho de churrasco barbecue, chinelos havaianas e uma camisa oficial numero 15 do Friburguense de 2001, eu fui à festa do meu amigão Ecrésio. Um verdadeiro encontro da Luxuria, um churrascão de fundo de quintal regado à feijoada, carnes de segunda, álcool e prostitutas, tocando muito samba de gafieira e o pior de tudo é que Ecrésio era católico e já tinha sido até coroinha.
Depois de cerca de 3 horas de festa, eu estava mais que trêbado, tinha misturado tudo quanto é bebida que um ser humano pode imaginar:
Absinto, Whisky, 4 tipos de cerveja, licor, cachaça, champanhe, vinho tinto, rum e até vodka.
No final da festa, eu já não conseguia andar direito e não sentia direito a minha língua.
Espantei-me de não ter entrado em coma alcoólico depois de tanto álcool, acho que o pão que eu comi absorveu uma parte e não deixou que eu apagasse.
Até que chegou a parte que ninguém queria que chegasse, a fronteira final: A hora do bolo.
Trouxeram um bolo daqueles gigantescos, 1m e 95 de bolo! Tudo preparado à mão pela dona Zuclêide, da casa do lado, 55 velas e muita tensão, até que uma prostituta saiu de dentro do bolo! Para minha surpresa, era Olga, estava vestindo apenas uma tanguinha e um chapéu de marinheiro! Aquela cena me chocou, influenciado pela entidade do álcool, ataquei Olga com uma garrafa de 51, acabei por matá-la. Tentaram me impedir, mas não adiantou.
Fui preso, passei maus bocados na cadeia, primeiro achei que os caras queriam fazer amizade comigo, mas duas noites depois de conhecer todo o “pessoal” da cadeia, fui estuprado e espancado diversas vezes quando me recusava a ser sodomisado.
12 anos de sofrimento, saí da cadeia com 33anos e nenhuma honra, perdi pra sempre meu emprego como gerente de uma loja de informática no centro, que inclusive foi à falência cerca de 5 anos depois o meu encarceramento.
Sem saída, fui direto para casa onde estavam guardadas minhas ultimas garrafas de Whisky, guardados 12 anos em um armário de cozinha de alumínio pintado. Peguei 4 garrafas, botei as 4 pra dentro.
Em um momento de loucura, escrevi uma carta dizendo que não queria mais viver, o mundo não era mais o mesmo para mim, eu não merecia aquela vida. Preparei uma forca com umas gravatas antigas e amarrei em uma janela. Pendurei-me e fiquei lá, sufocando, até que uma hora a forca arrebentou e eu caí de testa em uma mesa de mármore das Casas Bahia.
Acordei em um hospital com uma voz de um homem do meu lado, um homem alto, negro de óculos, trajando um terno Armani Azul Marinho com riscas brancas, era Pastor Silas, que na época estava de férias no Rio, mas como não consegue se manter longe do trabalho foi pessoalmente em minha casa me buscar pois meu vinzimo estava atrasado 12 anos e me encontrou lá, todo acabado e escorraçado.
O pastor me encheu de palavras belas e sublimes e antes que o médico pudesse abrir a boca, ele disse que eu estava com um coágulo no cérebro e que poderia morrer a qualquer momento. Desesperado, eu tentei fugir, mas o pastor me deu uma rasteira baiana e me levou para a sede da II.
Na Igreja, eu estava amarrado e amordaçado, quando acordei, antes que pudesse olhar para trás, Pastor Silas deu um chute em minhas costas que me fez ser jogado para o centro da piscina sagrada, achei que ia morrer ali, afogado. Que nada! Jesus me deu forças, arrebentei as cordas que me prendiam e saí de lá um novo homem.
Curado de todas as maleitas que assolariam minha vida até meus últimos instantes, não tinha mais coágulo, não tinha mais o virus da SIDA que contraí na prisão e por algum milagre santo minha ficha criminal foi completamente limpa, como se eu não tivesse assassinado Olga!
Hoje eu sou um conceituado pastor da Igreja Internacional e sou casado, tenho 5 filhos e sou dono de um escritório jurídico. Venham limpar o nome em 1 semana, pagamentos em até 10x sem juros, Jesus garante.