A Salvação de Geisel

Pastor Clodoaldo.

Eu sempre soube que a riqueza é presente do Senhor e que os ricos são espiritualmente melhores que os pobres. Não à toa há tantos mendigos espíritas, ateus, alcólatras, macumbeiros, etc, enquanto os evangélicos sempre têm um pouquinho pro dízimo. Você já viu pastor pobre? Padre pobre tem até de rodo, andam de vestido e chinela (alguns descalços), enquanto o pastor tem carro de luxo e tudo de bom. Alguns dizem que é coincidência, mas não é, pense nisso.

Há alguns anos eu tive muita vergonha de andar liso, mas sei que minha família sempre foi abençoada, primeiro por sermos evangélicos, segundo por sermos vinzimistas. Sei que sem o vínzimo enfrentaríamos naquela época muito mais dificuldades, por isso meu pai contraiu muitos empréstimos para não perder uma prestação sequer e não desagradar a Deus. É um conselho que eu dou a todas as pessoas, pois é melhor se endividar na terra do que no Céu.

Enfim, na data desse relato, meu pai trabalhava como pedreiro, e minha mãe diarista. Tíravamos uns mil reais líquidos por mês, em geral menos. Por segurança meu pai sempre ofertava a mais, pois a gente nunca sabe se no Paraíso tem correção monetária.

Afora isso, eu enfrentava em minha vida pessoal os conflitos que o Diabo põe na alma do homem. O caso é que eu estava por volta dos meus dezesseis anos e havia me apaixonado por uma patricinha do colégio, Rosely, a que todos tinham como Rosi. Ela era mui formosa, com cabelos morenos até os ombros, bem apessoada, com outros adjetivos que um bom cristão nunca deve se referir (a não ser sobre sua própria esposa, em intimidade). Eu também não era de se jogar fora. Andava sempre firmemente penteado e com a roupa bem vincada. Estudava bastante e tirava só dez, exceto em Ed. Física (meu pai acreditava que esporte era artimanha de Satanás e não me permitia jogar).

Como um adolescente inocente e imaturo, sonhava em enamorar Rosi para casar com ela antes da formatura. Ao me aproximar dela percebi que Rosi, entretanto, tinha outros planos. Nascida em família pagã (católica) e educada sem Deus, ela não pensava em se casar, não antes dos trinta anos (abessurdo), queria antes namorar um maromba de academia e viver do dinheiro do pai, que era empresário e dono de farmácia. Que frustração para meu coração! Eu devia saber que Rosi não me merecia, mas era jovem e fugaz.

Por causa de Rosely, pequei várias vezes. Além do pecado de Onã cometido em segredo, também passei a mentir. Para impressionar minha amada, inventei que meu pai era pastor. Eu sabia que os pastores gozavam de grande prestígio, e não tardaria para ela me admirar também.

"Mas Geisel, outro dia eu liguei na sua casa e você disse que seu pai estava na obra..."

"Na Obra de Deus."

Depois dessa mentira, Rosely passou a ser muito mais simpática. Gozado como o dinheiro atrai essas pérfidas filhas do capiroto. Muitos homens de Deus quase sucumbiram diante destas víboras do Éden!

A felicidade que senti em poder namorar Rosi era falsa e traiçoeira. Eu pensava ter tudo, mas não tinha nada, pois me afastava da Igreja, da retidão, do Sorteio de Casais, de tudo que é bom. Sem Deus, um milhão não dá um. Várias vezes meu pai me aconselhou a deixar Rosi para me casar com Keiane, na época minha vizinha, que era evangélica e direita, mas eu era contra.

Algumas semanas depois ficou difícil manter a fachada. Rosi passou em frente à minha casa e reparou no automóvel estacionado.

"Ai, Geisel, uma Belina! que carro velho!"

"Meu pai trouxe pra benzer... é mês de benção da lata velha lá na igreja."

Ela provavelmente não acreditou. E para testar a verdade da minha história, eu suponho, me pediu para dar um presente caro de aniversário. Era um tênis da moda na época, o Naique Choque, que além de ser coisa do Diabo custava mais de 300 reais.

Não havia jeito no mundo para eu comprar algo tão dispendioso! Ao me ver naquela encruzilhada, caí em desespero e roubei o envelope do banco com o depósito do vínzimo. Com os trezentos reais do mês, poderia comprar o tênis e sair ileso. Se meus pais perguntassem, eu mentiria de novo, dizendo que tinha entregue o envelope certinho no caixa.

Ao surrupiar o envelope, contudo, não percebi que meu pai me observava. Ele tirou a cinta e me educou firmemente, com dez ou quinze chibatadas nos braços e nas pernas.

"Sabia que não devia ter deixado Satanás entrar nessa casa! Seu filho da puta!"

Depois deu uma bela de uma educada na minha mãe, acusando-a de ser culpada da minha displicência. Então tirou a Belina e sumiu. Algumas horas depois, eu entendi toda a história. Ele fôra à casa de Rosely pedir que ela não mais falasse comigo, e lá Rosi descobriu que meu pai não era pastor. Ela me ligou em seguida, muito seca, avisando que não mais me namoraria. Caí em desespero. Pus-me a orar e com muita Fé consegui me reerguer; o Senhor preparou para mim um meio de amarrar as pontas.

No dia seguinte abordei Rosely. Ela me dirigiu a afirmação mais disparatada do mundo:

"Não gosto de pobre, ainda menos de pobre mentiroso, que nem você!"

"Você é uma puta, que nem Maria Madalena, a mulher que fez Jesus chorar."

Rosely, para meu espanto, me esbofeteou na face. Como sou homem com H maiúsculo, não deixei barato. Mandei-lhe uma sova em cada lado do rosto e dei-lhe uma bela de uma cusparada. Ela desatou em lágrimas e saiu correndo. No dia seguinte, estava com os olhos roxos e inchados. Ao vê-la daquele jeito, não resisti e ri muito, regojizando em Cristo.

Para mostrar para meu pai que estava recuperado, voltei firmemente aos cultos, inclusive trabalhando como auxiliar de obras na igreja, aproveitando as horas vagas para estudar pra pastor. Virei vinzimista fiel e responsável e desposei Keiane, como estava planejado desde o começo. Quanto a Rosely... sofreu um acidente de carro e virou paraplérgica. Perdeu a beleza e a popularidade que experimentava no colégio. Namorou um panaca pobre e casou-se por desespero. Deus sabe o que faz.

Faz dois anos que estou matrimoniado e seis meses que sou pastor. Levo minha esposa e meus quatro filhos (Gideão, Isaías, Ezequiel e Malaquias) no meu Civic zero para onde eu quero. Por toda a parte, todos vêem a minha riqueza. E sabem que Deus reserva sempre um pouco do Céu para aqueles que o temem.

Pr. Geisel Bezerra