O Diabo Me Tentou - Pr. Clodoaldo Malafaia

Na época em que fui tocado por Jesus Cristo para seguir no pastoreio evangélico, era jovem e idealista, com a cabeça inexperiente repleta de sonhos. Satanás, contudo, mora nas esquinas do mundo; não custou muito para que minha Fé fosse deturpada.

Um de meus professores era o potente pastor Claudiosmar Alamasteu, ex-traficante de escravos na Bolívia, ex-espírita, curado de dengue hemorróidica. Para meu conceito, Claudiosmar era uma espécie de mentor, e suas palavras ecoaram intensamente em meu coração quando sugeriu que saíssemos às ruas para principiar nosso rebanho. Eu desejava ardentemente converter os perdidos, peregrinar pela criação.

Encontrei uma alma conflitada. Um jovem menino, com nome de Elvis, que desde miúdo sofrera os estigmas da doença homossexual - chorei muito de emoção a primeira vez que o vi, pois percebi como aquele garoto sofria em estar dominado por tal maleita que, julgava eu, tantos consideram incurável!

Aproximei-me dele com cautela, para que não tivesse medo. Primeiro, ofereci lanches e doces, depois marcamos nossos primeiros encontros, onde caminhávamos por horas em praias desertas, apenas eu falando sobre Cristo e o projeto lindo que Deus arquitetara para ele. As pessoas olhavam com estranheza a relação de amizade que existia entre Elvis e eu, dada à sua mocidade e trejeitos afeminados - obviamente muitos pensaram o pior, e assim passei a carregar também eu a minha cruz.

Mesmo com todos os meus esforços, Elvis não vinzimava. De fato, sofria de dificuldades financeiras. Passei a lhe dar certa soma de dinheiro todas as vezes em que eu o visitava, assim como alimentos, bebidas, etc etc. Pastor Claudiosmar era contrário, dizia que não devíamos jamais dar a um infiel, pois era como pagar ao Diabo (mesma razão pela qual não devemos dar trocados aos mendigos).

Certo dia, tive uma séria briga com meu amigo Elvis. Por uma razão qualquer, que já não me lembro, ele se agarrou a meu corpo, tentando arranhar minha carne. Ele se enrolou em mim com uma víbora, envolvendo-me com o suor de seu corpo. No calor da batalha, rolamos para a cama, e suas mãos ásperas como garras arrancaram minhas roupas. Ele gritava exasperado, "Jesus", "Jesus", "Não Pára", como se sua alma gritasse em libertação. Agarramo-nos nus na cama num exorcismo potente. Para meu tremendo azar, neste momento os pais do menino, que voltavam cedo de viagem, adentraram no quarto. Imagine a confusão que se deu.

No dia seguinte, tentei promover o desenlace de tamanho mal-entendido, mas minha má-fama havia sido instaurada. Todos imaginavam que eu andava a ter relações gueis com o menino Elvis, justo eu, que era evangélico e edificado, de excelente índole.

Para piorar, Elvis mentira a todos que andara a ter relações comigo, outros pastores e obreiros. Eu vi minha carreira desabar antes de se erguer - encontrei conforto na oração. No dia seguinte, o garoto desapareceu enquanto ia à padaria. Pela falta de testemunhas, fui absolvido, e pela ajuda de meu amigo Claudiosmar, fui renovado em minha dignidade.

Desde então sou um pastor renomado, fortemente conceituado na Igreja e no meio jurídico. Aquele que não enxergava esperança, viu a luz! E fui eu!

Sei que Satanás me tentará de novo, e de novo, e de novo... é por isso que o vínzimo é todo mês.

Pr. Clodoaldo Malafaia