Pastor Clodoaldo Malafaia.
Nunca fui um homem supersticioso. Acreditava eu que a religião e as artes negras caíam todas dentro do mesmo saco de fantasias e por isto não praticava a Fé nem qualquer hábito que não cumprisse os requerimentos mais lógicos. No meu grupo de amigos, entretanto, era exceção; um de meus melhores amigos, Robson, era evangélico da Igreja do Primeiro Impacto e meu principal alvo de gozações. De "crente do rabo quente" a barbáries ignóbeis difamei e caçoei de meu bom colega. A sua religiosidade e boa disciplina faziam com que aceitasse minhas pilhérias calado, o que de certo modo manteve nossa amizade por muito tempo, mesmo que muitas vezes minhas palavras escapassem despropositadamente ofensivas.
Robson era um dos jovens mais respeitáveis que já conheci: vestia-se adequadamente, não bebia, não fumava e era ordeiro e trabalhador. Tão boa foi sua amizade que um dia, encontrando eu sem emprego e pressionado por meus pais, veio à minha casa dar um aviso:
- Tá sem nada ainda Tonho?
- Estou.
- Então, eu só pensei que quisesse saber. Minha tia Ruth pegou um dinheiro solto de um processo que meu bisavô abriu em 1968 e comprou uma pizzaria aqui no bairro. É pequena, mas precisa de gente pra rodar. Então eu te recomendei. O salário é mesmo mixuruco, mas é só enquanto tu andar na pindaíba.
Eu andava em torno dos 21 e precisava de um empreguinho enquanto nada aparecia. Desse modo, procurei sua tia alguns dias depois, uma mulher morbidamente obesa, mas muito simpática. Era uma das obreiras mais fervorosas da IPI. Ao ver que eu me aproximava em minha Dafra Super 50, enunciou ela que andava precisando de um entregador.
Acertados os trâmites legais, nas semanas seguintes passei a ser o motoboy oficial da Pizza Ruth. Por ser um ás das duas rodas, ganhava muitas gorjetas e aspirei fazer um bom pé de meia. Na hora do pagamento, todavia, Ruth pagou-me faltando 60 reais.
- Acho que se enganou, patroa, veio a menos.
- Não é nada, é o dízimo.
Nisso eu elevei a voz, brigamos um tempo, até que ela decidiu me pagar por inteiro.
- Você devia dar para a igreja, Júlio, só Deus guarda.
- Deus, haha, como você é boba, Ruth.
Assim a vida continuou. A parte do dízimo eu consumi em Itaipava e bolovo, uma outra fração ia para as despesas do lar e outro tanto pra poupança.
Certo dia, Ruth me liga no meio da madrugada.
- Estava dormindo...
- Quer ganhar gorjeta boa, Júlio? Ligaram de um condomínio, com uma encomenda grande.
Corri direto para a pizzaria, apanhei a porção: seis pizzas supremas, mas um número duplo de pão de alho e um engradado de refresco sabor cola. Em menos de vinte minutos estava diante de uma mansão mastodôntica, com estátuas de gesso à porta e colunas adornadas de prata. Atendeu-me um homenzinho miúdo e curvado, que devia rondar os setenta.
- É o senhor o Cido Araguaia?
- Sou eu sim, muito prazer.
Dentro da residência, auscultei um barulho de murmúrio, como se houvesse muita conversação. Pensei tratar-se de uma festa e por isso conduzi toda a encomenda para o interior da casa. Passei a Cido Araguaia o preço que constava na nota.
- Me desculpe, menino, mas fique um pouco aqui, coma à vontade, na saída pago-lhe bem.
Nisso adentrei-me em um grande salão oval onde muitos comiam e bebiam. Recostei-me no fundo, junto ao muro de trás, e ali descansei um pouco, enquanto fartava-me de refresco e comida. Trinta minutos se passaram e pensei que acabara de ser passado para trás. Mergulhei no povaréu à procura de Cido Araguaia, sem encontrá-lo. Como já passavam das três da manhã, cansei-me da busca e indaguei um dos convidados:
- Por favor, onde está Cido Araguaia?
- Ora, Cido Araguaia, pois não.
O homem me conduziu até a parte interna da residência, onde descansado sobre a mesa jazia um caixão contendo o o mesmo velhinho que me atendera. Pálido e ainda fresco de morte, ele fitava o céu com olhos inexpressivos, como de reflexo do passamento. Também a vida escapara de mim, pois fiquei congelado de terror.
- Mas ora, este homem me recebeu na porta pela entrega.
- Está louco, garoto? Ele passou pra outra hoje de manhã, durante o sono... um dos pais de santo mais renomados do Brasil.
Deixei a casa correndo e desorientado, ainda trêmulo de medo. Liguei para meu amigo Robson no primeiro orelhão que encontrei, contei-lhe toda a história. O sol já aparecia quando ele tomou o primeiro ônibus e então caminhamos a pé mais de cinco quilômetros em direção a sede da Igreja do Primeiro Impacto. Lá conheci o pastor Uoshington, homem de Deus altamente conceituado, que com a voz muito serena ensinou-me tudo sobre Jesus Cristo. Tornei-me assim protestante assíduo incorporado do Reteté da pira sagrada do Monte Sinai.
Continuei trabalhando na Pizza Ruth. Outro mês minha patroa pagou-me com os 10% descontados:
- Está errado, Ruth.
- Ah, menino, é o dízimo, mas está bem, eu ponho tudo.
- Não - falei - tira 20% porque eu sou vinzimista, graças a Deus.
Nunca mais ouvi falar de Cido Araguaia, espiritismo ou nada disso. Hoje sou evangélico recuperado na Igreja do Primeiro Impacto.
Antonio Clóvis
12 comentários:
alegra-me ler um testemunho desses
HARMABSMASLASASNBAS
mais uma alma salva e mais um vinzimista pra obra.
aleloia!!!
Abençoado demais! Glória a Deus
Quem é que raios quando está com medo vem pra esse lugar http://3.bp.blogspot.com/_hPcau6fCwOQ/TTdfMBa5h7I/AAAAAAAAAQA/eZmkc6WMnH8/S150/sede1c.jpg pra pedir ajuda? O.o Ôxi! E tinha que ser no Acre!!!
qual o problema de ser no acre?
por falar nisso, tem na bahia também, quando vier a salvador procure a IPI.
Colunas gregas na casa de um pai de santo é difícil de engolir...
olha esse blog que os gueis ceiarão falando da ipi,humanoides vão pro inferno.
http://inpacto.criarumblog.com/Primeiro-blog-b1.htm
sabe o nome da esposa do diabo diabete kkk mais uma tinha duas formigas uma perguntou qual seu nome fo fo oq fomiga outra perguntou qual seu nome ota ota oq ota fomiga kkk
Graças a Deus! Aleluia!
A paz!
"Pizza Ruth"
GENIAL!
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