A Rádio Espírita

Eu me chamo Arrigo Júnior, resido atualmente na muito bem estruturada cidade de Lucas do Rio Verde, MT. Sou filho de Arrigo do Rádio, o maior nome da história do rádio mato-grossense, um ícone do rádio brasileiro e latino americano. No início da década de 1970 meu pai além de ter um programa semanal na maior rádio de Cuiabá da época, ele narrava jogos de futebol e tinha uma coluna no jornal Diário de Cuiabá.

Eu era filho único e vivia uma vida de luxo absoluto. Morava num bairro que era o reduto da burguesia do estado, estudava no melhor colégio, era amigo dos filhos de grandes latifundiários, políticos, empresários, tinha os melhores brinquedos do mercado e transitava, sem habilitação, em um Democrata turbinado. Em 1972 minha avó paterna morreu em um acidente, ela estava a 120 km/h em sua moto Honda RC166 seis cilindros e foi atingida por um caminhão Mercedes, seu corpo de 83 anos não suportou e sua vida foi ceifada no local da colisão. Meu pai ficou deveras chocado, no velório chorava copiosamente.

Ele já não mais tinha ânimo para trabalhar, faltou ao serviço por 5 semanas seguidas. Comecei a ficar apavorado com aquela situação, temia que ele desistisse do trabalho e aos poucos nossa riqueza fosse ruindo. Contei o meu drama para um colega meu, o Matias, ele disse que o pai dele era espírita e poderia entrar em contato com a minha avó e assim reconfortaria meu pai. Não acreditava naquela moagem, mas tomado pelo desespero de ficar pobre, falei com meu pai a respeito. Ele não se interessou.

Falei para o Matias da falta de interesse do meu pai, ele falou com o pai dele e no dia seguinte trouxe um bilhetinho dizendo que eu entregasse ao meu progenitor. Saí da escola cantando pneu, apressado para entregar o recado, no caminho não me contive e acabei abrindo o bilhete que dizia: "O Espiritismo é a nova ciência que vem revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual."

Meu pai se animou para conhecer o médium Wanderlam, pai do Matias, pois já que o espiritismo é uma ciência pautada na razão, tudo daria certo, não era só abobrinha. Depois das primeiras sessões, ele voltou a trabalhar, estava contentíssimo, dobrou minha mesada, por eu ter apresentado o espiritismo pra ele, e pela primeira vez disse que me amava. No dia 4 de março de 1978 meu pai morre afogado no rio Araguaia numa cidade do interior do estado de Goiás. Eu e minha mãe, Maria das Graças, ficamos perplexos ao receber a notícia de sua morte. Foram dias difíceis. Principalmente minha mãe que levou longos 2 meses para se casar novamente.

De repente me vi sem mesada, minha mãe estava gastando todo o seu dinheiro em farras com seu novo esposo, ficava indignado. Num ato de coragem, comprei veneno de rato e envenenei a comida do desgraçado. Sentia saudades do meu pai... E realizei falar com o médium Wanderlam, para bater um lero-lero com meu velho. Foi uma grande emoção falar com meu pai, logo na primeira sessão ele me disse que eu deveria continuar a obra dele, me informou que havia um dinheiro guardado dentro do colchão dele, uma boa quantia em dinheiro, eu deveria pegar àquele montante e fundar uma rádio intitulada de “A voz da Transcendência”, e assim pregar o espiritismo às pessoas. Em pouco tempo montei a rádio, e comecei a propagar a mensagem de Alan Kardec e Chico Xavier. Comprei livros e confeccionei panfletos e distribuía as pessoas nas escolas e universidades. Pus uma caixa de som no meu Democrata e colocava uma mensagem que meu pai gravou e enviou do plano espiritual.

Das 6 da manhã ao meio dia eu lia na rádio cartas psicografadas de entes queridos de pessoas que me procuravam interessadas. De meio dia até às seis da tarde o meu pai tomava posse das ondas sonoras do rádio e dava uma pala de como é o plano espiritual, através do médium Wanderlam. E assim, dentro de 5 anos de rádio, eu e meu pai convertemos 94 mil pessoas ao espiritismo e transformamos Mato Grosso na maior comunidade espírita do mundo, para o orgulho da entidade Chico Xavier e do próprio Satanás.

No dia 7 de outubro de 1983, enquanto eu lia uma carta psicografada de uma jovem de 18 anos dizendo ao namorado que não o estava traindo, senti um cheiro de enxofre muito forte, depois vi fumaça e essa fumaça foi tomando grandes proporções, dei de ombros e continuei lendo a carta. Mais tarde percebi que minhas botas pegavam fogo, só aí vi que era um incêndio. Todos os funcionários já haviam se retirado do local, e eu queria salvar alguns materiais, por causa disso queimei quase que meu corpo inteiro.

Acordei no hospital com minha mãe e um homem de terno e gravata, ele me informou que os bombeiros não entenderam o porquê do fogo, não havia nenhuma explicação pautada na razão. Ele disse que Deus tinha um plano pra mim, mesmo eu peidando na face do Criador ao propagar tamanha barbaridade que é o espiritismo. Chorei no leito do hospital e lá mesmo aceitei a Jesus.

Em 2008 batizei-me na piscina sagrada e já não tenho mais nenhuma marca de queimadura. Hoje sou estupendamente mais feliz, casado e pai de 5 filhos, missionários mirins, prego o evangelho em todo o estado e região Centro-oeste.

Pastor Arrigo Júnior.

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Texto redigido pelo obreiro Lucas Nash