O Viking

Pastor, me chamo Igor Silva Gunnar, tenho 16 anos, sou de Vitória – ES. Uns meses atrás eu resolvi pesquisar sobre as minhas raízes, meu sobrenome, tive uma terrível revelação e interpretei mal os sinais. Esse é meu testemunho e tenho certeza que muitas pessoas já passaram por situação parecida.

Era um dia quente e ensolarado de uma manhã de quarta-feira, fui para o colégio Lyceu, um colégio umbandístico onde os professores obrigavam os alunos a esperar o sinal bater olhando diretamente para suas caras sempre que a firma atrasava seus salários ou em alguns casos de professores, quando o Flamengo perdia.

Professor estressado que prende os alunos até altas horas

Na aula de história, o professor Cardoso passou um trabalho para sabermos de onde viemos, pesquisar nossas raízes utilizando nossos sobrenomes, uma prática satanista que vem normalmente de membros da cabala. Eu, como o ótimo aluno que sempre fui, questionador, participador, sempre tirava notas altas, perguntei para ajudar o pessoal encabulado da turma que tem vergonha de perguntar em caso de dúvidas.

“Professor, e quem mudou de nome, como faz?”

O professor ficou tão impressionado com a minha pergunta que ficou me encarando com uma cara espantosa por cerca de 2 minutos, colocou a mão na testa e disse:

“Se vira!”

Após passados 20 minutos do professor ficar marcando vários papeizinhos da mega sena, fingindo que estava corrigindo nossas provas, o sinal bateu e a turma foi liberada. Fui direto para casa fazer o dever de casa, nem passei na igreja para pagar o vínzimo, deixaria para mais tarde. Mas mal sabia eu que Jesus me puniria severamente por isso.

Cheguei em casa, tomei um banho e troquei de roupa, almocei e fui direto pro meu computador Positivo processador AMD Athlon 1900+ 1,4 GHZ, memória de 512 MB, HD de 40 GB, gravador de DVD LG e um belíssimo monitor LCD de 17” da marca CCE. E fui logo acessando o site Wiskepédia, onde digitei cada um de meus sobrenomes na barra de pesquisas.

O primeiro que li foi o “Silva” estava escrito: “Silva (apelido) é possivelmente o mais difundidoapelido de família (sobrenome) nos países de língua portuguesa. Sua origem é claramentetoponímica, sendo derivado diretamente da palavra latina silva que significa selva, floresta ou bosque, e tem a sua origem na Torre e Honra de Silva junto à Valença.”

Em seguida, copiei pro caderno, não achei a origem tão interessante então só coloquei o resumo mesmo. Mas quando li o nome Gunnar, fiquei chocado e entusiasmado! “Gunnar ou Gunner é um prenome masculino de origem nórdica. Gunnar é um prenome muito popular nos paísesescandinavos. As primeiras citações do nome Gunnar encontram-se em pedras rúnicas na Suécia do séc. IX.”

Depois disso resolvi fazer uma pesquisa profunda sobre a origem do nome, li a página inteira! Fiquei completamente pasmo em saber que eu possuía um nome tão incrível, ligado aos vikings, que eram verdadeiros carniceiros impiedosos, que infelizmente eram ligados à uma religião fantasiosa, uma espécie de umbanda primitivo da Europa antiga.

Odin - Deus nórdico impiedoso, malvado e caolha

Tirei 10 no meu trabalho sobre meus nomes, dei todas as informações necessárias sobre a origem do meu nome e a ligação com o povo viking, suas conquistas e tudo mais, um documento histórico perfeito e completamente bem escrito, sem nenhum erro de português, nem os mais bobos que eu normalmente cometia.

A partir daquele momento eu fiquei viciado em mitologia nórdica, no paganismo e nas histórias vikings. Comecei a cultuar Odin como meu deus e a ler todos os romances sobre as aventuras dos deuses.

Aos poucos eu me entregava mais a esse mundo de fantasias, comecei a ouvir musicas satânicas como Amon Amarth e o satânico Pagode, que todos sabemos que na verdade significa “Pagan God’s”, uma abreviação com mensagens subliminares para ludibriar o povo com a idéia de que ouvindo esse estilo “musical” você seria como os vikings, teria as mulheres que desejasse e roubaria sem ser punido.

Capa de CD de pagode, alto teor de satanismo oculto nesta imagem.

Comecei aos poucos, entrei em um curso de alemão e comprei um machado de batalha no mercado livre, paguei 110 R$ + frete, a final, o que é um viking sem seu machado? Depois resolvi trabalhar meu artesanato, como os vikings eram grandes artesãos comprei uma tora maciça de carvalho dinamarquês pela internet e fazendo uso somente de meu machado, fabriquei um escudo. Mas esqueci de colocar o espaço para segurá-lo e prendi uns pregos e uma cinta de couro, ficou perfeito! Já estava pronto para combater os Cristãos, por fogo em seus vilarejos, estuprar suas virgens e escravizar suas crianças.

Li também que os vikings bebiam muito, uma cerveja preta com teor alcoólico de 65% em média. Como isso não existe no Brasil, resolvi eu mesmo fazer minha própria cerveja Viking também! Comprei um barril daqueles antigos onde as pessoas colocavam vinho, acoplei uma torneira de plástico da Tigre e enchi de cerveja Caracu. Como essa cerveja só tem 5% de álcool, enchi mais ou menos 40% do barril e completei o resto com álcool de cozinha e corante preto, para não perder a aparência nórdica! Estava pronta a minha cerveja escura.

Comecei a beber ali mesmo, na cozinha de casa. À mão uma caneca com o escudo do Vitória, meu time do coração e um barril cheio de Cerveja caseira, levei com muito esforço o barril para o meu quarto, mas não tinha problema, eu também tinha que ficar bombado se quisesse ser um viking!

Um viking zombando de deus, apontando para cima e rindo - Todos malditos!

Fui estudando mais sobre a cultura nórdica antiga, treinando minhas técnicas de combate no jogo Pagão online chamado Ragnarok, onde você é um guerreiro lutando no fim do mundo viking contra Lóki, seus filhos e seu exército de gigantes.

Enquanto fazia isso, não deixava minha caneca vazia, antes de terminar eu a enchia novamente! Até que certa hora fui me sentindo mal. Vomitei e desmaiei em cima do teclado do meu computador, tive um sonho revelador e assustador ao mesmo tempo.

Eu estava com minha armadura viking, chapéu de chifres, escudo de madeira e machado de batalha, montado no cavalo mutante de oito patas, Sleiphnir. E ao meu lado estava Thór, o Deus trovão em sua viga puxada por seus bodes também mutantes, um deles manco. Thór virou-se para mim e disse:

“LÁ ESTÁ O INIMIGO! VAMOS DERRUBA-LO, IGOR! EM NOME DE NOSSO PAI, ODIN!”

Avançamos com tudo e chegando mais perto vi o que era o inimigo. Era uma sede da Igreja Internacional! Não poderia atacá-los! Mas no sonho eu era outro Igor, não era o Igor do reteté, o garoto ungido, era Igor, o Matador de Cristãos.

Até que eu vi na porta um homem negro de óculos, careca, trajando um terno Armani Cinza Claro e uma bela gravata vermelha com um broxe escrito “Sou ungido, sou da Igreja Internacional”. Como que dotado de um poder infinito, o homem levantou as mãos e todos os membros do exército viking foram exterminados! Sobrando apenas a mim.

O homem era Pastor Silas, o ungidíssimo fundador da Igreja Internacional. Ele virou-se para mim e me disse palavras sábias, belas e sublimes como esta:

“Não se iluda mais com essas mentiras da metade do milênio passado! Só Jesus é o verdadeiro Campeão!”

Jesus - O verdadeiro Campeão!

Logo depois eu acordei no hospital, havia sofrido uma intoxicação seguida de infecção intestinal e por pouco não morri sufocado no próprio vômito, como aquele guitarrista negro satanista conhecido como “Dimi Hand Ricks”, com certeza seria uma maneira muito humilhante de se morrer, e acho que foi por isso que os vikings sumiram, morreram todos sufocados no próprio vômito.

No dia seguinte apaguei todos os pagodes e musicas do Amon Amarth do meu PC e fui para a igreja pedir desculpas para deus, participei de um batismo na piscina sagrada e me converti em Cristo, saí do colégio Lyceu e hoje estudo para ser alguém de verdade na vida, um Pastor da Igreja Internacional.

A Paz.